A DESCONSTRUÇÃO DO AMOR
Finanças Pessoais

A DESCONSTRUÇÃO DO AMOR


Eu escrevo sobre Gestão, Finanças, as vezes sobre Política e Economia. Em virtude das circunstâncias em que o país vive, com frequência tenho opinado também sobre assuntos da atualidade. Há muitos anos não vejo os canais abertos da TV, por vários motivos. Confesso que a banalidade com que alguns temas são abordados e a mesmice dos formatos, contribuíram para isso. Existem alguns apresentadores que não consigo mais escutar. Prefiro programas que discutam os assuntos com especialistas, bem mais do que com celebridades. Mesmo assim, hoje vou escrever sobre um fato da TV aberta e o que está em torno dele no meu entender, porque repercutiu bastante nas outras mídias as quais tenho acesso, entre elas aquelas que se utilizam da internet. O beijo gay no ultimo capítulo da novela da rede de televisão que há anos lidera a preferência dos brasileiros. Sei que isso é um risco, devido ao patrulhamento em relação a assuntos como este. Já vi nas redes sociais pessoas agredirem e serem agredidas por causa do debate. No entanto, prefiro arriscar-me do que omitir-me. Depois, penso estar exercendo um legítimo direito de dar a minha opinião e publicá-la na minha página ou blog, assim como qualquer um, sem merecer por isso ataques seja de que lado for. 

O amor não é uma invenção humana, tal como o celular, o automóvel ou a poltrona da sala. Ele cumpre uma função bio-social e arrisco-me a dizer que é por causa dele que a humanidade chegou até aqui. Ele funciona como uma liga que nos une e faz sermos melhores do que somos. Ele também não exige necessariamente a dimensão sexual, do contrário não existiriam relacionamentos amorosos entre pais e filhos, irmãos, primos, amigos e amigas. Ou amores mais elevados como aquele da proposta cristã. O ser humano pode amar sem que necessariamente exista comportamento sexual. Do mesmo modo, a existência de sexo não implica necessariamente em amor. Além da natureza reprodutiva, o sexo parece representar uma significação corporal e intima, dos sentimentos que um sente pelo outro. Contudo, não há dúvidas que o prazer sexual, é uma recompensa para a reprodução em nossa, e em qualquer espécie. 

A moral sexual ocidental, é fundamentada na concepção judaica. Na antiguidade, período em que ela foi formada, eles viviam rodeados e inseridos de povos com concepções diferentes sobre o mesmo assunto. Muitas vezes, sem terras e sem riquezas, a tradição judaica foi o cimento que manteve o povo vivo. Neste e em outros assuntos, eles são bem definidos em suas posições, e acreditam que seguem orientações divinas. Nelas, a homosexualidade não encontra  apoio, apesar de que em outras sociedades até mais antigas e tão quanto influentes, a conduta homosexual era vista de outra forma, que nos diga, Alexandre da Macedônia e tantos outros tidos como gregos. O Cristianismo, filho do Judaísmo, herdou muitos de seus conceitos, mas é preciso frisar que com uma proposta mais voltada para a tolerância e a fraternidade, seu fundador protagonizou vários episódios de acolhimento de execrados pela cultura de sua gente, tais como, prostitutas, leprosos, cobradores de impostos, o que  inspira alguns, inclusive o Papa atual, a se posicionarem de outra maneira em relação ao assunto, mesmo que Paulo, grande responsável pela doutrina cristã, tenha sido contundente em sua condenação. Os fatos históricos que chegam ao nosso conhecimento, indicam que a homosexualidade sempre existiu nas sociedades humanas, e o que difere é como lidamos com ela. E como lidamos com ela, está diretamente relacionado com o nível de maturidade que temos, enquanto pessoa e coletividade. 

A nossa noção de Amor, também sofre influencias da época e do meio. É inegável que ele e outros aspectos e comportamentos humanos, inclusive o sexual, sofrem influencias do ambiente. Repercutindo a noção judaica, parece que a Europa do século XVIII foi tomada por uma onda de Amor Romântico, aquele que fundamenta os laços monogâmicos entre um homem e uma mulher, como o mais elevado patamar de sentimento aqui na Terra. Talvez venha daí, os amores platônicos e a veneração pelo ser amado, numa fusão entre paixão e amor, entre carnal e divino, entre sexo e sentimento. O modelo industrial de sociedade, centrado no humanismo e satisfação do ego, foi aos poucos desconstruindo essa concepção e lançando o Amor em um terreno bem diferente. Retomando o aspecto mais sexual, do próprio prazer, transformando-o em um produto, sobre o qual tudo é válido desde que seja para o próprio bem. Alguns chamam isso de Hedonismo. Mas nem tudo que é permitido, convêm. 

Antes a homosexualidade tratada de maneira pejorativa, maneira esta incentivada por práticas promíscuas de alguns homosexuais, começa a ser transformada em homoafetividade. A ridicularização da homosexualidade masculina, e a estigmatização da homosexualidade feminina, começam e ceder para a romantização, buscando com isso uma maior aceitação social. Os seres humanos com práticas e condutas homosexuais, são antes de tudo seres humanos. E nesta condição, são exatamente iguais a todos os outros. Mesmo assim, este processo de "homoafetização" disseminada pode trazer maiores dificuldades, sobretudo para aqueles que estão em formação. Ou pelo menos estão mais em formação. O já difícil sentimento pelo sexo oposto, agora terá de lidar também com o sentimento pelo mesmo sexo. Meninos e meninas terão de incluir em suas avaliações muito mais variáveis, o que aumenta a probabilidade de confusão, ao identificar amizades e amor homosexual, por exemplo. Esta complexidade maior pode levar a maiores erros, decepções e sofrimento, em troca do esperado acerto. E este risco, pode produzir pessoas mais fechadas em si, distantes do outro, mais incapazes de amar e por isso, mais infelizes. A matriz amorosa fica mais complexa. Outra consequência possível, são as reações cada vez mais fortes no sentido da intolerância, muito comuns em situações onde a variabilidade e a falta de padrões norteadores são intensos. Em todo caso, o Amor sempre foi e sempre será um norte seguro. 

A despeito de qualquer polêmica, a liberdade de expressão é um bem fundamental nas sociedades livres e deve ser preservada. A referida rede de TV, deve ter o direito de transmitir suas programações. O que não me parece salutar, é uma fomentação da homosexualidade, e uma intolerância às pessoas que pensam ao contrário, numa espécie de "gayzismo", como um amigo bem conceituou em seus escritos recentemente. Deve estar claro que as pessoas tem o direito de não ser, não gostar, e até de não aceitar, assim como eles tem o direito do oposto. Sendo o cérebro um receptor de informações, construindo com elas os seus pensamentos, as novelas são sim meio de influência, principalmente para aqueles não possuem senso crítico desenvolvido. Para quem mergulha na fantasia, fica mais difícil separar ficção da realidade. 

Do ponto de vista natural, a relação homosexual é infertil, pois os corpos do mesmo sexo não foram feitos para este encontro. Mas a sociedade humana já resolveu essa questão, separando prazer e reprodução, e possibilitando a concepção por outros meios. Hoje, muitos festejam o primeiro beijo gay masculino como um marco, uma vitória, um avanço similar ao pouso na lua, a descoberta da eletricidade ou a cura do câncer. Outros apedrejam. Mas foi só um beijo encenado por dois atores. Um espetáculo. A vida real é bem mais complexa. Como nos filmes de antigamente, nos quais as telas nunca mostravam o que vinha depois do "felizes para sempre", o que vem depois do beijo é o que define o resultado. Heterosexuais e homosexuais ainda estão longe da felicidade, da qual um beijo não é sinônimo. Até bem porque, não podemos esquecer, que o martírio de Jesus começou depois do beijo de Judas. 



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