NOBRES, SERVOS E BURGUESES
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NOBRES, SERVOS E BURGUESES


Houve um tempo na Europa que a sociedade humana era dividida entre nobres e servos. Não que isso tenha sido uma exclusividade europeia, pois este modelo também foi encontrado em sociedades no Oriente Médio, na Ásia e na América pré colombiana, mesmo que com nomes diferentes. Para os nobres existia a concepção de que eram melhores do que os outros e por isso, eles tinham o direito de ter melhores roupas, uma melhor comida, melhores habitações e logicamente, um grande leque de privilégios. Mais do que bens materiais, os nobres tinham um direito imutável de estarem sempre certos diante dos servos, que por sua vez, eram aqueles seres desprovidos de prerrogativas, e que por isso tinham uma vida de trabalho para gerar as condições sociais e econômicas para que os nobres existissem. Os nobres seriam sempre nobres, e os servos seriam sempre servos. Porém, a partir de um determinado momento atividade comercial proporcionou o aparecimento de um outro grupo social o qual chamamos de burguesia. Eram pessoas desprovidas da nobreza hereditária mas que pela força da sua iniciativa, conseguiram melhorar não só a condição das próprias vidas como gerar riqueza independente do direito que possuíam para isso. Esta novidade transformou a sociedade humana profundamente, e nos remeteu ao modelo que vivemos hoje. Assim como fazia com os servos, a nobreza menosprezava a burguesia, todavia acabou por sucumbir à ela. Felizmente. 

A despeito da antiguidade destes rótulos, ainda hoje podemos observar a sobrevivência de tipos humanos muito similares a estes arcaicos papéis sociais. Sim, hoje temos nobres, servos e burgueses convivendo conosco todos os dias na família, no trabalho, nas ruas e nas sociedades. Os nobres de hoje são aquelas pessoas que sempre acham que sabem de tudo, que são melhores informados, que suas idéias e opiniões são as mais corretas. Seus familiares são mais bem sucedidos, suas escolhas são as mais adequadas, sua comida a mais refinada. Eles só ouvem e consideram o que vem de outros que consideram nobres. Os nobres são exímios críticos da vida alheia, mas não conseguem enxergar os problemas nas suas. Normalmente elitistas, querem mesmo é a servidão dos demais, que por mais que façam jamais serão devidamente reconhecidos, afinal eles são inferiores. Mesmo quando estes outros fazem algo digno de mérito, são ignorados. Aos nobres falta humildade genuína. Os nobres de hoje não são tão nobres assim. 

Já os servos atuais, são aqueles que nunca saem da condição de inferioridade. Aceitam isso como se fosse seu destino, e de tanto serem tratados como tais, acabam achando que realmente são piores que os outros. Pior ainda, esta aceitação os faz permanecer sempre em condições ruins no grupo social que participam. Os servos contemporâneos simplesmente servem aos propósitos alheios e deixam os seus em segundo plano.  Eles são doutrinados para isso, mas também são conformados com a própria realidade, desprovidos de força de vontade para mudar e melhorar. Sujeitam-se a orbitar os nobres achando que isso vai lhes trazer algum benefício, sem saber  que eles só pensam neles mesmos. Os servos são convenientes e também sempre esperam que os outros façam por si aquilo que eles mesmos deveriam fazer. Os servos na verdade colaboram para a sua condição, e são os maiores e únicos responsáveis por ela. 

Já os burgueses da atualidade são aquelas pessoas que trabalham para conseguir os próprios resultados. Sem possuir a pretensão de serem melhores do que os outros como os nobres, tão pouco sem portar a condição de inferioridade dos servos, os burgueses tomam iniciativas mais  do que falam da vida alheia. É lógico que não são bem vistos pelos nobres, para os quais são uma constante ameaça. E também é de se esperar que sejam admirados pelos servos porque possuem qualidades que os mesmos não conseguem apresentar. Mas não espere uma manifestação explícita de apreço pelos burgueses. Isso desagradaria aos nobres e os servos apenas fazem à distancia. No fundo eles sabem realmente quem é quem. Somente não podem demonstrar. Os burgueses ocupam-se mais consigo mesmo, em melhorar as próprias condições, estudando, trabalhando, empreendendo, e muitas vezes podem ser taxados de egoístas. Na verdade são independentes. E a sua maior colaboração para os demais é o exemplo. Eles não são de muito luxo, são capazes de frequentar ambientes humildes e refinados com a mesma desenvoltura, pois isso não é o importante para eles. Também são capazes de ignorar autoridades que são normalmente bajuladas, pois os títulos não são seus referenciais.

Ao contrário do que diz o ditado, os afins se atraem. Nobres preferem nobres, servos são menos incomodados por servos, e burgueses são peixes fora d'água perto dos dois. Acabam se afinando com outros burgueses. Logicamente, você pode encontrar os três no mesmo ambiente, e com um olhar rápido imaginar que são todos iguais. No entanto, da próxima vez que tiver oportunidade, procure distinguir as naturezas de cada um e você vai perceber as diferenças gritantes entre os três. 



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