Finanças Pessoais
Porque é Que Isso é Tão Importante?...
(deixem-me avisar que este
post é bastante pessoal, transfiro para aqui as minhas próprias meditações, de maneira que é natural alguém não concordar ou até sentir-se visado. Não sinta. Leia-me sem preconceitos. E depois pense nisto, ou não pense de todo. Fica ao vosso critério.)
À medida que fui crescendo, fui-me apercebendo por mim própria das diferenças de valores e de princípios que existem em cada família. Bastava uma conversa, uma visita a casa de uma amiga, um comentário dirigido a mim ou a outros, e a existência de uma opinião pública acerca do privado de cada um tornou-se cada vez mais evidente para mim.
No entanto, embora eu reconheça as diferenças de valores e o direito a elas, não modifiquei assim tanto os valores e princípios que me foram passados durante a minha educação. Parece que estou a falar abstrato, não é?... Deixem-me dar um exemplo.
Algures a meio da minha adolescência, "adquiri" algumas amigas que, no meu ver, andavam sempre giras. Maquilhadas, salto alto, unhas arranjadas, roupas maravilhosas... Ai!, as roupas!... Apercebi-me, por associação com elas, de que me encontrava assim um pouco para o estado "bruto", ainda por lapidar, não sei se me faço entender.
Apercebi-me, repito, mas não procurei modificar-me.
Os motivos eram simples, e eu entendia-os e aceitava-os:
não havia dinheiro para gastar em "superfluosidades", pelo que eu deveria saber desenvolver gratidão pelo que tinha, e satisfação interior por não precisar de mais nada.
E de facto, tem sido assim que eu tenho vivido. Com uma capacidade de observação do critério dos outros, mas com um senso de indiferença em relação ao que julgarão da minha pessoa.
Faltam-me poucos anos para os 40, no entanto, se vos disser que a única vez que fiz
manicure, foi esta, acreditam?...
Deixei de ir à cabeleireira, e passei a cortar o meu próprio cabelo, e digo-vos que pela primeira vez, o meu cabelo tem autorização para se definir como ele é, sem tintas a mascará-lo e sem secador a forçá-lo a ser de outra forma.
As minhas roupas têm todas mais de 3 anos, e algumas peças ainda são de quando era solteira (portanto, diriam as senhoras que andam sempre na moda - "ultrapassadas,
demodées, fora de moda"), e os sapatos?... Se vos disser que o meu calçado de trabalho (porque sou obrigada a ter um calçado macio e silencioso) tem 15 anos, são uma sapatilhas da
Zara, já romperam dos lados dos joanetes (oi! eu não tenho joanetes, hein?... é só para esclarecer o local do buraco!...) e eu simplesmente cosi-as com agulha e linha, à mão, e continuam a bater que nem umas heroínas?...
Não quer dizer que sempre tenha precisado de viver regradamente. Isso não corresponde à verdade nem um pouquinho.
Desde que me casei, sempre tivemos mais que o suficiente, e até fizemos decisões dispendiosas porque assim o podíamos fazer, mas apenas nos últimos 3 anos a nossa vida mudou radicalmente! Nunca na vida imaginei vir a encontrar-me a apanhar urtigas para fazer uma sopa, ou ter de cozer as sapatilhas de trabalho para durarem o mais possível, ou até ver uma peça de roupa numa montra, e nunca (porque a expressão nestes 3 anos é mesmo essa) nunca poder comprá-la. E sapatos?... Como sou doida por sapatos!... Voltássemos nós à nossa era doirada e era ver-me a encher a despensa da nossa mini-casa de sapatos!...
Mas todas estas confissões têm um propósito. Explicar como é que nós conseguimos viver assim. A resposta é simples: por meditarmos em "
Porque é que comprar isso/ter isso/fazer isso é tão importante?..."
Voltemos à questão da maquilhagem, cabeleireira, roupa, sapatos, etc. Indo ao âmago dos nossos desejos, escrutinando bem os nossos motivos, o que é que encontramos?... Podemos dizer que é porque não temos nada que vestir, que calçar, porque temos unhas de porco ou juba de leão?... Ao contrário, não é verdade que:
- É um desejo de nos sentirmos melhores do que aquilo que achamos que somos (como se dependesse dessas coisas)
- ou melhores do que outros por comparação,
- por desejo de exibição, de receber elogios/assobios/piropos/reconhecimento,
- por desejo de atrair alguém, achando que estes actos aumentam a probabilidade
- por ânsias de que alguma coisa na nossa vida vá mudar por este simples acto
- por vaidade
- porque temos dinheiro e por isso podemos
- para mostrar aos outros que temos dinheiro e por isso podemos
- ou para ocultar dos outros que não temos dinheiro e portanto não podemos, e por isso, fazemos mesmo isso, mesmo não podendo
- porque gostamos realmente das coisas e pensamos por que não?
... e etc, etc, etc. Cada um ponha a mão na sua consciência, e para si, mesmo baixinho, mesmo sem admitir para ninguém mais, e só por estes minutos que dura o meu post, avaliem. Meçam os gastos, as aquisições, as compras, e perguntem-se:
"Porque é que isso é/foi tão importante?..."
Cumprimentos, e vale a pena meditar nisto.
Ariana
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