As Coisas Simples da Vida
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As Coisas Simples da Vida


Cada dia estou mais satisfeita com o que tenho. Que é cada vez menos... 

Mas quer-me parecer que o contentamento interior nada tem a ver com o que se tem, faz ou alcança. Suspeito que mais tem a ver com a nossa consciência e o nosso desenvolvimento psico-emocional. (Mas não me alongo mais nestas conjecturas, deixo para os profissionais na área a explicação deste facto em linguagem própria deles)

Quem vem aqui há mais tempo já sabe de algumas das consecussões obtidas, ao longo da nossa vida de casados.

Sabe também que, desde que mudámos a nossa vida para habitarmos na capital, fizémos cedências e escolhas que poucos compreenderiam ou aceitariam de ânimo leve. Para os que só agora aqui chegaram, eu passo a alistar algumas dessas escolhas:

Deixámos a família e os amigos para trás, na cidade natal, e fomos viver para uma cidade onde não conhecíamos NINGUÉM.

Deixámos um T3 com terraço e com garagem fechada para 2 carros, e fomos morar num T1 de 40m2.

Vendemos os carros, e passámos a andar a pé ou de transportes públicos.

Deixámos de ter TV+TLF+INTERNET, para ter apenas TV+TLF, visto que o portátil se avariou logo depois de nos mudarmos para Lisboa e não o substituímos por outro.

Deixámos de gastar horas na net em casa, para fazer um uso mais pontual e necessário da internet no trabalho e nas bibliotecas.

Deixámos de poder almoçar juntos todos os dias, para nos vermos apenas de manhã e à noite.

Deixámos de comer fora tantas vezes, ir ao Mac, ao restaurante chinês, à pizzaria, ao café, aos gelados, etc, e passámos a usufruir de coisas semelhantes mas feitas por nós (esta era uma batalha antiga, mas está vencida! Nos últimos dois meses, 2 idas a comer fora!...)

Deixámos até de ter tanta mobília, roupa de casa, roupa nossa, bibelots, e outros acessórios, por falta de espaço na casa actual.

Deixámos de ir ao nosso Alentejo querido, para passar as férias por aqui, até ter as contas em ordem como nós desejamos.

Deixei até de trabalhar a tempo inteiro (não por escolha mas por imposição), e passei a trabalhar só 4h por dia + 3h de deslocações.

Deixámos de comer pão e iogurtes de compra e passámos a fazer os nossos próprios pães e iogurtes.

Até deixámos de lavar a loiça na máquina, que entretanto decidiu fazer greve, e passámos a lavá-la à mão.

Olhando de fora, qualquer ser com um pouco de ambição dirá que passámos "de cavalo para burro". O que não deixa de ser verdade. Mas este é um "burro" do qual passámos a gostar ainda com mais carinho do que do "cavalo" que deixámos para trás.

Porque passámos a dar mais valor às coisas e a não ter tudo como garantido. Melhor, passámos a não ter mesmo NADA como garantido!

Porque aprendemos a dar valor às coisas realmente importantes, como a companhia um do outro, a saúde, a alimentação saudável, os amigos leais e genuínos, o sermos hospitaleiros, generosos, humildes, modestos, e acima de tudo: sentirmo-nos GRATOS!

A gratidão foi uma qualidade que se foi instalando, gradualmente, assim de mansinho, à medida que vimos as coisas supérfluas a sucumbirem e as coisas importantes a aumentarem. A gratidão passou a ser a força que faz despontar nos nossos corações o contentamento com as nossas escolhas e com a vida que temos.

Obrigada a todas as coisas simples da vida!
Ariana



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