Finanças Pessoais
Porque é que eu acho que comer melhor não é uma questão de orçamento
Há muito que ando para escrever este post. Já o escrevi e apaguei algumas vezes, porque não quero ser mal interpretada.
Mas vamos por partes. Este não é um blogue vocacionado para poupar, mas sim um blogue que tenta ajudar a tirar partido do que cada um de nós tem, de modo a desperdiçar o mínimo possível e assim, com consequentemente poupar. É essencialmente um blogue de economia doméstica, algo que caiu em esquecimento (e que entretanto voltou!) , mas que durante muitas anos fazia parte do universo de todas as donas de casa. Porque o dinheiro não abundava, porque as pessoas eram ensinadas a poupar e usavam essa filosofia de vida nas suas casas. E sempre foi esse o propósito deste blogue. E não dizer onde acontece a promoção x ou y, que talões podem usar a cada semana, onde a carne é mais barata. É portanto um blogue de ideias e sugestões para rentabilizar e tirar o melhor partido de um orçamento doméstico, seja ele maior ou menor, pois cada um poderá e deverá adaptar estas sugestões à sua realidade e às suas necessidades. Dito isto, vamos ao que interessa.
Eu acho que, de uma maneira geral as pessoas comem mal. E para comer melhor, não é necessário gastar mais dinheiro. Acho portanto completamente errada aquela ideia de que é a crise que leva os portugueses a terem piores hábitos alimentares. E esta é a minha sincera opinião.
O que leva os portugueses a comerem mal é, na sua grande maioria fazerem más escolhas. Comer melhor é essencialmente uma questão de escolhas e não de orçamento.
Presumo que a esta altura haja quem esteja de acordo comigo, e quem não concorde minimamente. Claro que todos somos livres de ter a nossa opinião, mas vou tentar explicar porque é que eu tenho esta opinião.
Se há algo que eu gosto de fazer quando vou às compras, é de “cuscar” o que as outras pessoas levam nos carrinhos.
E, de um modo geral, vejo que muitas famílias compram artigos (porque aquilo nem são bem alimentos) que não têm grande valor nutricional e não alimentam corretamente. Ora mesmo em promoção esses artigos custam dinheiro. Mesmo da mais rasca marca branca esses artigos, todos somados, tem um valor. E, muitas vezes, esse valor gasto em refrigerantes, ice teas, bolachas, cereais de pequeno almoço, iogurtes que não são iogurtes acabados em “inhos”, batatas fritas de pacote ou para fritar, snacks salgados, supostos sumos que substituem a fruta, bolos recheados com coisas brancas, (e podia continuar aqui a tarde toda…) dava para comprar muitos alimentos frescos, que podem fazer uma fantástica refeição para toda a família.
O que leva então as pessoas a fazerem essas escolhas? A desculpa de ser para as crianças, na grande maioria das vezes. Mas as crianças não precisam de beber refrigerantes às refeições. Um copo de coca-cola ou ice tea ou qualquer outra coia do género tem o equivalente a 5 ou 6 pacotes de açúcar. Em cada copo. Não é melhor beber água às refeições? Eventualmente, em dias de festa um sumo de laranja natural? Uma limonada caseira? Não. As crianças bebem sumos e refrigerantes porque gostam, e os pais deixam.
E o mesmo é valido para as bolachas, os iogurtes “inhos” carregados de açúcar – já alguém perdeu 5 minutos a ver a composição de um iogurte dito para crianças em relação a um iogurte normal? Olhem, façam as comparações e depois digam se há necessidade de dar isso às crianças. Não vou ao extremo de dizer para apenas lhes darem iogurtes naturais, mas um iogurte de pedaços ou de aromas em detrimentos de outros muito mais açucarados.
E depois temos os cereais de pequeno almoço, as batatas fritas, as bolachas de chocolate, os bolos recheados…. Que não são para dias ocasionais, mas para quase todos os dias. E tudo somado? Uma boa quantidade de dinheiro gasta em não alimentos. Em más escolhas alimentares que não trazem benefício nenhum.
E depois os estudos que dizem que as crianças portuguesas comem mal, comem doces todos os dias, e que preferem pizzas e hamburguers? Eu não estranho nada disto.
Quase todas as pessoas que conheço com miúdos pequenos, usam uma ida ao Mac, como um incentivo. “Se te portares bem, logo vamos jantar ao Mac!”
Pois vão os carrinhos de compras com os iogurtes “inhos”, as batatas de pacote, as bolachas, os pacotinhos de sumo que substituem a fruta verdadeira, os snacks, os cereais açucarados. E depois as empadas, os rissóis, os hamburguers congelados, os douradinhos (para muitos o único peixe que comem e desconfio que nem sabem bem que aquilo é peixe), as pizzas congeladas para dias de pressa. Às vezes há alguns legumes e fruta, e massa e arroz. Leite e margarina para o pão. Eventualmente queijo e fiambre, mas não esquecer a nutela porque os miúdos gostam. E há ainda a carne, e o peixe e às vezes o bacalhau e os enlatados.
Ah, já me estava a esquecer dos molhos – maioneses, ketchups e os enlatados.
Pois bem. Se eliminarmos uma grande parte de produtos que não trazem nenhuma mais valia para comer melhor, e se aplicarmos esse mesmo valor em comida a sério – peixe, carne, legumes frescos, fruta, leguminosas…. Não estamos a comer melhor? E a gastar o mesmo?
Um kg de dourada ou robalo de aquicultura normalmente da Grécia – um dos favoritos em todos os supermercados – não custa menos de 7€. Em alternativa um kg de cavala ou carapau, peixe de mar, da nossa costa, não chega a custar 3€. Com o mesmo valor compro o dobro de peixe.
1 pacote de 400g de flocos de aveia, custa cerca de 1€. 1 pacote de cereais de chocolate de pequeno almoço custa cerca de 3€.
6 iogurtes naturais custam 1,5€, 2 iogurtes gregos, carregados de gordura e de açúcar custam 2 €.
As bolachas, os refrigerantes, os bolos, as batatas fritas de pacote e todas as coisas que não têm nenhum benefício alimentar, todas somadas, podem ainda permitir que se comprem mais fruta, mais legumes e carne de melhor qualidade.
Comer menos carne, mas escolher carne de melhor qualidade.
A manga e o abacaxi não são fruta da época.
Consumir algumas refeições vegetarianas por semana. E leguminosas como o grão e o feijão também fazerem parte das nossas ementas semanais. São baratas, saborosas e fazem parte de uma boa alimentação.
Sopa sempre todos os dias, porque é barata e nutritiva.
Fazer os nossos hambúrgueres em casa em vez de comprarmos dos congelados, cheios de coisas que nem sabemos pronunciar. O mesma para as pizzas.
Fazer um bolo caseiro em vez de comprarmos bolos de pacote cheios de gordura trans, açúcar e afins.
Esta é a minha opinião. Comer melhor é termos vontade de fazer escolhas melhores. De educarmos os nossos filhos a fazerem escolhas melhores. De os ensinar que os doces, os sumos e os hambúrguer do Mac são exceções.
De gerirmos o nosso tempo para cozinharmos refeições de raiz, com legumes frescos, leguminosas, carne e peixe da melhor qualidade que conseguirmos comprar.
De não comprar alimentos pré-cozinhados com ingredientes que não conhecemos nem sabemos pronunciar.
De sabermos que se temos este x dinheiro para gastar em comida, o devemos fazer em alimentos a sério, e que ice tea não é chá, e batatas fritas não são um vegetal.
Está aberta a discussão.
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