Finanças Pessoais
CUIDADO AO OLHAR O PASSADO PARA DEFINIR INVESTIMENTOS
Dia desses um conhecido me confessou que teve perdas de até 30% por cento na renda fixa. Ele aplicou em um fundo com títulos do tesouro atrelados a inflação. Um ano antes de ele investir esse tipo de aplicação teve rentabilidade acima de 20%.
Ele foi influenciado por um fenômeno estudado nas finanças comportamentais: a representatividade. Significa que meu conhecido fez uma estimativa do futuro em função do que viu no passado recente. Em outras palavras, ele avaliou que se a aplicação financeira rendeu 20% nos últimos meses poderá aumentar tudo isso, ou quem sabe mais, nos próximos meses.
Não é a toa que os fundos são obrigados por lei (mesmo que em letras minúsculas em seus documentos) a colocar que “rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”.
A representatividade parece um erro simples de ser evitado mas na prática não é. Por exemplo: quando a Bolsa de Valores sobe muito em um período é normal ver o número de pessoas físicas aumentar fortemente nesse tipo de investimento. Muitas delas compram ações que já subiram muito e em breve passarão por um momento de correção de preço (algo normal na Bolsa) e vão amargar grandes prejuízos em curto espaço de tempo.
Como evitar que nossa mente nos iluda com a tal da representatividade? Uma das estratégias é o investidor perguntar a outras pessoas mais experientes em finanças o que elas pensam sobre aquela modalidade de investimento e quais os riscos. É importante não tomar uma decisão baseada apenas na opinião do seu gerente de banco. É saudável também pesquisar na internet, principalmente em fóruns e artigos, se aquela modalidade que você quer investir poderá ter um bom desempenho em termos de rentabilidade.
E por fim, vale a pena responder: se a renda é fixa por que houve variação? O que muita gente não entende é que a renda fixa (CDB, Títulos Públicos, fundos desses ativos) não é tão fixa assim e pode sofrer variação na rentabilidade.
Vamos a um exemplo: em 2012, as aplicações de renda fixa que pagam juros fixos mais inflação foram os melhores investimentos. Um tipo de título chamado “Nota do Tesouro Nacional-série B Principal” com vencimento em 2035 teve rentabilidade de quase 50%. Já os fundos que investem nesse tipo de título renderam, em média, 21% no ano passado.
Em 2013 o cenário mudou e penalizou o bolso do investidor. A mesma NTN-B Principal já recuou 25%.
O problema é que, ao contrário do que muitos pensam, essas aplicações em títulos públicos com o objetivo de se proteger da inflação não se valorizam quando a inflação sobe muito. Esses títulos se desvalorizam porque a projeção futura de juros é de alta (Banco Central aumenta os juros para controlar a inflação).
É importante saber que investimentos que tem parte ou a totalidade de sua remuneração fixada no ato da aplicação passam por um mecanismo chamado marcação a mercado. Assim, sua remuneração (ou parte dela) se mantém fixa, enquanto seu preço de mercado oscila de acordo com as expectativas para a Selic, a taxa básica de juros da economia. Se a perspectiva é de alta do juro básico, cai o preço de mercado; se é de queda, sobe o preço.
Quem compra um título desses e permanece com ele até o vencimento vai ganhar exatamente a remuneração acordada. Não vai perder dinheiro.
Mas quem se desfizer do título público antes do vencimento, em um momento em que o mercado projeta aumento da Selic, vai vender esse ativo a um preço mais baixo e terá prejuízo.
Detalhe: quanto maior o prazo do título, maior a oscilação no preço de mercado e mais amplas as desvalorizações quando a perspectiva de juros é de alta.
E o que o fundo que meu conhecido, citado lá no começo do artigo, investiu tem a ver com isso? Os fundos de inflação são obrigados a comprar e vender títulos do tesouro sujeitos ao chamado risco de mercado, ou seja, aos efeitos da oscilação da taxa de juros. Se ele soubesse de tudo isso teria evitado o fenômeno da representatividade e consequentemente o prejuízo.
IMPORTANTE
O comentário acima é uma opinião com fins educacionais. Não é recomendação de investimento. A opinião é valida para a data em que o artigo foi publicado.
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