TODAS AS FACES DE UMA CRISE FINANCEIRA NA EMPRESA
Finanças Pessoais

TODAS AS FACES DE UMA CRISE FINANCEIRA NA EMPRESA





Uma crise financeira é um evento inesquecível para uma empresa. Principalmente se ela for a primeira, pois a gestão estará despreparada para enfrentá-la, e não é incomum que entre em pânico. Ela altera padrões e comportamentos, invade o cotidiano como uma nuvem de fumaça, muitas vezes retirando a visão do fim do túnel, levando as pessoas a acreditarem que não há saída. Mas as crises financeiras existem para serem superadas. Elas ensinam, elas fortalecem aqueles que aprendem, e elas podem ser uma boa alavanca para melhorar.

Tecnicamente falando, uma crise financeira empresarial tem características bem definidas. A empresa não tem recursos para honrar todas as suas obrigações e possui um passivo de volume relevante, muitas vezes maior que seu patrimônio. Os controles financeiros estão desarrumados ou são mesmo inexistentes. As decisões são tomadas em função da circunstância e da pressão. Não há horizontes a perseguir. A estrutura organizacional é confusa e deficiente. As receitas podem estar estagnadas ou em queda. Vive-se somente o curtíssimo prazo. Não é raro existir muito stress, muito nervosismo. As pessoas traduzem isso nas suas condutas e suas falas. Os conflitos latentes se acentuam e alguns buscam culpados ou responsabilizar fatos externos, se justificando. Na verdade, para que uma crise se instale, é preciso o encontro de fatores internos e externos. Algo de fora, encontra ressonância em algo interno. Por isso, não adianta ficar procurando motivos. O que resolve uma crise é trabalho, serenidade e pragmatismo.

Os credores percebem facilmente o que acontece numa empresa em crise. Se ela está tomando as medidas necessárias para resolvê-la ou está perdida com folha seca em vendaval. Quanto mais percebem mais ficam preocupados ou tranquilos. Sejam eles com fornecedores, bancos ou governo, seus objetivos não incluem quebrar uma empresa. Eles querem é receber. Por isso, não é impossível renegociar dívidas com prazos mais longos e até encargos menores, desde que a programação seja cumprida. Renegociar o passivo, é uma passo importante na recuperação. Os tributos em atraso muitas vezes podem ser parcelados. As reuniões com os bancos precisam ser pautadas por propostas concretas de pagamento, com base na capacidade da empresa. O trato com os fornecedores deve ser franco e assertivo. Tapar o sol com a peneira não é uma boa estratégia. Outra coisa a definir é uma programação de pagamentos com base em prioridades operacionais. Ela deve ser estabelecida pelo grupo estratégico da empresa e jamais pode ficar à mercê daqueles que mais reclamam.

Mas a renegociação de dívidas, buscando o alongamento do seu perfil e a redução de encargos, não é o único passo a ser dado. É preciso colocar ordem no fluxo de caixa, organizando recebimentos e pagamentos. Muitas vezes, a simples transferência de vencimentos já ajuda a eliminar alguns desencaixes. O fluxo de caixa, demonstra a real capacidade de pagamento da empresa, bem como a sua necessidade de fundos. Quem não tem precisa implantar e quem tem, precisa adotá-lo como referencial primeiro na gestão financeira. Não canso de lembrar que o célebre Jack Welch dizia que controlamos muitas coisas em um negócio, mas os três controles mais importantes são a satisfação dos clientes, a satisfação dos colaboradores e o fluxo de caixa. Faz sentido, pois a os clientes satisfeitos compram produtos e com isso geram receitas que por sua vez formam o lucro. Colaborares satisfeitos produzem mais e desperdiçam menos. E o fluxo de caixa, consegue consolidar muitas informações financeiras importantes, sendo uma espécie de medida vital para um empreendimento.

Juntamente com o caixa, o contas a receber, os estoques e o contas a pagar precisam ser revisados. Eles compõem o capital de giro da empresa e muitas crises, estão relacionadas com os prazos de recebimento, os prazos de estocagem e prazos de pagamento que estão sendo praticados. As compras precisam ser aperfeiçoadas assim como o faturamento. Quanto mais rápido a empresa receber, quanto mais demorar a pagar e quanto menos mantiver dinheiro em estoques, mais terá dinheiro em caixa, para com isso quitar suas dívidas. Cada conta e cada item devem ser analisados, com o objetivo de identificar estas possibilidades. É um trabalho minucioso que exige atenção e perseverança. Mas só existe uma maneira de fazer: É fazer.

Também é preciso olhar a lucratividade operacional do negócio. Analisar os preços de venda para saber se eles realmente estão cobrindo toda a estrutura de custos e despesas. Identificar aqueles produtos com melhores margem de contribuição para assim maximizar a vendas deles, é uma boa maneira de fazer dinheiro. Aliás, as vendas precisam ser incrementadas. Quando uma empresa está em crise, é quando mais ela precisa vender. Então não é hora de cruzar os braços e entregar-se ao medo. É hora de arregaçar as mangas e trazer dinheiro para a casa. Muitas crises financeiras estão relacionadas com lucratividade insuficiente. Problemas de margem, não por acaso, acabam por gerar problemas de liquidez. Cortar custos fixos e variáveis não será uma coincidência. Será um imperativo.

Por fim, se tudo isso for feito, mas não forem tomadas medidas organizacionais a fim de dar sustentabilidade à empresa, existe uma boa probabilidade que ela entre novamente em dificuldades. Assim, deve-se considerar a implantação do orçamento empresarial, a reformulação de centros de custos e contas, a melhoria dos demonstrativos gerencias, o estabelecimento de protocolos de decisão, a ativação do sistema informatizado de controle, a organização de cargos, setores e responsabilidades, a fim de que sejam estabelecidas alçadas e políticas de prestação de contas, entre algumas outras providências quanto a política de recursos humanos e posicionamento mercadológico.

As crises são boas oportunidades de melhorar a empresa. O ideal é que não se precise cair numa delas para fazer isso. Mas se já aconteceu, o melhor a fazer é agir conforme um plano definido, com um grupo de gerenciamento de crise, muitas vezes com a ajuda externa de uma consultoria, e bastante determinação. Quando um carro atola em um lamaçal, não dá para tirá-lo sem que todos desçam para empurrar, deixando um para manter o rumo a seguir. Não tem jeito, será preciso colocar os pés na lama.
 
Artigo de minha autoria publicado no site da ANEFAC-SP.
http://www.anefac.com.br/paginas.aspx?ID=674



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